Café com Fotos... A derradeira compilação dos meus maiores vícios. Obviamente o título deste blog não denota um sentido literal. Um bom cafezinho sempre fica mais gostoso acompanhado de um pão quentinho, como não sou bom Padeiro, prefiro mesmo é degustá-los, assim não correrei o risco de “queimar a rosca”.

Desta forma, como se costuma dizer que os olhos são “as janelas da alma”... Então, conto com vocês, amigos e possíveis leitores, para que juntos alimentemos nossos espíritos com reflexão e arte.

sábado, 3 de maio de 2008

Café com Bate-papo

Caros leitores do Blog Café com Fotos. Para este post especial, eu Jefferson Chaves(vulgo JotaChaves), em nome deste nosso Blog, tive a oportunidade e o prazer de entrevistar neste último sábado, dia 3 de maio, a jovem fotógrafa cearense do jornal O Povo, Talita Rocha.


Como cenário de fundo para essa entrevista, escolhi o Café Santa Clara, no Instituto de Arte e Cultura de Fortaleza, o Dragão do Mar. Obviamente um cenário perfeito para a primeira entrevista feita especialmente para o nosso blog. Um lugar super aconchegante, ideal para uma conversa sobre a Arte da Fotografia.


E
scolhi essa jovem fotógrafa para esse bate-papo, por ela ter sido uma das primeiras e mais jovens revelações da era digital a ser contratada por um grande jornal impresso, a fim de que esse bate-papo possa servir de referência para toda essa juventude que está interessada em se aventurar pelo mercado da Fotografi
a.



Talita Rocha é uma jovem e talentosa fotógrafa cearense. Formou-se em Jornalismo pela UFC e com apenas 3 anos de carreira como fotojornalista, já é fotógrafa contratada do jornal O Povo, o principal jornal impresso da capital cearense.

Bonita, carismática e com um sorriso aparente, Talita conquista seu espaço com muito charme, carinho e respeito de todos os seus colegas do meio da comunicação social.

Cursou também Fotografia na Casa Amarela Eusélio Oliveira no final de 2004, um curso de fotografia básica referência na cidade de Fortaleza, chegando a participar duas vezes da grande mostra de fotografia cearense, o DeVERcidade, organizada pelo Instituto de Fotografia, que é a principal organização de fotógrafos no estado.

Uma mulher simples e atenciosa, Talita Rocha atendeu nosso convite prontamente, para ter esse diálogo com essa nossa geração que está chegando com a facilidade e ao mesmo tempo os aspectos negativos da fotografia digital.


Para o início do bate-papo, eu pedi um café expresso e a jovem fotógrafa pediu um cappuccino gelado, afirmando que tem preferência por essa deliciosa bebida...



Café com Fotos:

E aí, ta gostoso o Café?

Talita Rocha:
Tá, tá ótimo, cappuccino com fotos! (risos)

Café com Fotos:
Talita Rocha, quando e como surgiu o seu interesse por Fotografia?

Talita Rocha:

(SIC)Foi “recentissíssimo”! Foi na faculdade, primeiro semestre... Foi, não tem uma passagem mirabolante na minha vida que eu descobri “ó como eu gosto de Fotografia”! Na faculdade eu via livros, na verdade não foi só na faculdade, você sempre vê um livro, fotos bonitas e você se interessa. E na faculdade eu vi a possibilidade de ter um acesso pra estudar isso, que não vai partir do nada. Eu também conhecia gente que tinha feito cursos na Casa Amarela, que tinham falado que tinham gostado ou qualquer coisa assim... E eu pegava livros da biblioteca, depois que eu decidi que eu queria mesmo aprender... Aí foi assim mesmo, sozinha, lendo, pegando livros daqueles do tempo que ensinavam ainda a passar o filme?! Aqueles livros da biblioteca da UFC, puro a mofo!?(risos)

Mas era assim, eu via as fotos dos livros e achava um barato. Tinham umas técnicas estranhas das antigas, era muito mais interessante, as técnicas que eles faziam sem Photoshop, alguma coisa assim. Algumas delas eu até me lembro, faço hoje e ainda dá certo.

CF:
Naquela época ainda não existia Photoshop, era outra história...

TR:
Pois, naquela época muito, muito antiga, viu? Eu to falando de livros bem antigos. (risos)



CF:
Então foi na época da faculdade que você começou pesquisar sobre foto?

TR:
Sim, claro. Eu fui iludida realmente, porque quando eu comprei a primeira máquina eu achava que tava abafando geral no fotojornalismo! Mas que nada! Aí me disseram que a onda não era mais foto de filme, minha primeira câmera foi de filme, mas já estava no momento do digital.



Dom Ângelo - Foto: Talita Rocha


CF:
Então você já tentou se aventurar no mercado fotojornalístico com uma câmera analógica?

TR:
Então, foi assim. O rapaz... (Não sei, eu gosto de contar as coisas numa ordem cronológica. Eu posso até fazer uma ordem cronológica pra você se situar).

CF:
Tá ok, então vai lá! “Senta que lá vem a estória”!(rs)

TR:
“Senta que lá vem a estória”(rs)

No primeiro semestre eu fazia a cadeira de Photoshop, aí eu adorava. A gente não aprendia nada demais, tinha um patinho lá e a gente só fazia tirar o bico do pato e por o bico no pato! Era uma comédia! Até hoje o pessoal fresca com essa cadeira de photoshop. Aí eu perturbei que só o professor e até hoje ele é meu chapa. Ele me indicou umas câmeras massa que eu pudesse comprar com pouco poder aquisitivo, porque na verdade era o meu pai que ia comprar.

Aí, era o advento digital e a câmera que meu pai comprou tava abalando na época, que era uma Sony de 3mpx, meio quadradona, que era uns mil reais naquela época, gigantesca! Então eu perturbei que só o pai e ele comprou.

Aí eu fiquei brincando, eu gostava e tal... Fui me interessando, lendo livros... Aí comecei a juntar dinheiro pra comprar uma câmera de filme e botei na cabeça que queria fazer a Casa Amarela . Uma amiga minha já havia feito e disse “Talita mas não faça sem a câmera porque não vai prestar, você não vai entender nada”. Aí botou aquela ruma de coisas na minha cabeça.

Aí pronto! Eu não podia fazer sem ter a câmera! Lá fui eu fazer trabalhos, ensinava inglês, entreguei listas telefônicas! Eu ensinei inglês pra uma menina que era o cão! A menina era um cão mas tinha que suportar ela, porque era tudo isso pra juntar o dinheiro. Eu também acompanhava uns gringos que vinham para o Brasil, minha igreja tem convênio com os gringos. Eles vêm pra cá fazer trabalhos sociais, coisas assim. Aí eu acompanhei esses gringos e ainda ganhei uns dólares! (rs) E foram esses gringos que trouxeram a minha câmera, na maior gambiarra! (rs)

Agora é que vem A parte! Eu tinha uma professora que trabalhava no Diário do Nordeste...

CF:
Essa era uma Nikon?

TR:
Sim, era uma Nikon. Foi, que até frescavam comigo que era Nikon e num sei o que mais lá! (rs) Porque eu comprei uma igual a da faculdade, eu não entendia nada de câmeras. E não sabia que precisava entender tanto de câmeras!

CF:
E qual era a câmera mesmo? Você lembra?

TR:
Era uma Nikon N80, era igual a da faculdade, com uma lente 28-80. E a gente trabalhava com ela, e o professor da época era das antigas! Dizem que o pessoal das antigas gosta mais de Nikon, né? Era o Silas de Paula, ele disse “não minha filha, compre Nikon, porque é melhor e tal”. Aí pronto, comprei Nikon.

Ai eu pedi para aquela professora “olha queria conhecer o pessoal lá do jornal, da parte da fotografia”, meti uns queixos! Aí ela me levou lá para o Diário, ela é a Naiana Terra, acho que ela é repórter de lá ainda. Eu acho, que nessa profissão nunca se sabe onde a pessoa vai parar! Hoje eu posso estar no jornal, amanhã eu posso estar na prefeitura, sei lá!(rs)

Então, ela me levou lá e eu conversei com o José Leomar, o primeiro fotojornalista que eu conheci foi o José Leomar. Ele conversou comigo, eu disse qual era câmera e ele disse “olha o negócio agora é digital”. Aí foi me mostrar um super sistema do banco de dados. Bom, não tava se usando mais a câmera de filme.

Aí, eu mal comprei uma câmera de filme vou ter que comprar uma digital, é? Aí foi a primeira câmera. Só depois é que veio a digital na minha vida, mas a de filme eu ainda tenho. Foi um xodó a bichinha.

CF:
E quando foi que você resolveu investir no digital?

TR:
No digital? Aí foi outra saga!

CF:
Sua primeira câmera digital foi uma Nikon?

TR:
Foi uma Nikon também. Sabe por que? Porque eu tinha uma lente, aí como um pobre estudante estagiário que nem era estagiário direito... aí eu comecei a estagiar! Ô coisa boa!





Show do Fagner -Foto: Talita Rocha.

CF:
Foi aí que você chegou lá no jornal levando a câmera, achando que tava abafando?

TR:
Foi! Foi depois de ter a digital. Eu cheguei no Diário achando que eu ia abafar com a câmera de filme, aí depois que eu cheguei no O Povo.

Eu comecei a estagiar pra ganhar um dinheirinho. Deu uma greve geral na UFC(Universidade Federal do Ceará). Foi aí que eu fiz a Casa Amarela, que deu tempo de sobra pra eu fazer o curso. E ainda estagiava num negócio que me botaram dois períodos.

(Deixa eu contar a história de novo em ordem linear...)

Eu tava com a minha câmera de filme, aí eu fiz um portfólio. Tinha aquelas reuniões do IFoto(Instituto da Fotografia), eu ia pra todas só prá... Sei lá, eu queria me meter, de algum jeito eu queria me meter nesse meio. Aí para umas reuniões que não tinham nada a ver mais eu ia e tal.

Aí inventaram um curso lá, chamado Construção do Olhar, que eu não sabia nem prá onde é que ia. Eu fui pra esse curso, mas teve um dia que eu fugi pra outro curso. Era uma semana que estavam ocorrendo vários cursos. Então eu fugi para outro curso que era com Walter Firmo, ele é muito bom com cor. Ele ia sair um dia por Fortaleza nesse curso. Botou todos os fotógrafos num trio elétrico, e saímos pela cidade pra fotografar. E a gente fotografando e os fios dos postes batendo nas nossas cabeças! (rs) Alguém gritava lá “ó o fio, ó o fio”! Aí todo mundo se abaixava! (rs) Enfim, metade das fotos deste bendito portfólio, primeiríssimo, eu bati ai.

Convidei uma amiga minha pra pousar pra mim, peguei um filme p&b, aí chamei ela lá prá casa do Português que é uma casa antiga, e fizemos um tal dum ensaio. E outra, eu peguei umas coisas lá em casa e tentei fazer um tal de um “still”. Aí pronto, fiz um portfólio completíssimo, tem fotojornaliso, tem still e tem moda! Fizeram mó enxame lá na faculdade! Mostrei pro meu professor que tinha uma revista, ele pegou meu telefone, aí quando tinham umas besteirinhas lá ele me chamava pra bater foto.

Mas na verdade, eu passava o dia sem fazer nada lá, porque na revista é um ritmo mais lento. Quando pintava uma entrevista me chamavam pra fazer as fotos. Só que aí eu tinha que comprar o filme, aí era uma novela, revelar o filme, pra digitalizar! Tinha toda essa dificuldade com máquina de filme.

Um dia eu tava lá de bobeira, aí ligaram para uma repórter dizendo que precisavam de um assessor para o campeonato da classe laiser, que foi aquele que o Robert Chaid ganhou o octa campeonato. A pessoa precisava falar inglês, e ela estava atrás de alguém desesperadamente. Eu ouvi a conversa, tinha uma amiga que trabalhava nessa assessoria, eu dei os toques prá ela e ela me botou prá dentro, na verdade.

Aí gostaram, eu bati altas fotos do Chaid com a minha camerazinha, o Chaid dançando! Eu doida prá fotografar e eu tendo que ficar lá pegando entrevista com gringo! Aí foi o jeito.

CF:
Em que ano isso ocorreu, você lembra?

TR:
Foi no ano da Casa Amarela, 2004 ou 2005.

Aí no fim das contas essa pessoa me contratou pra fazer clipping que é a pior parte do jornalismo, que realmente é a pior coisa que existe. O clipping é você na assessoria ter que ler os principais jornais, tem que ver as matérias que interessam, recortar, colar e passar pros clientes. Aí eu tive que passar por todo esse trabalho duro, mas o dinheiro que eu tava recebendo era prá comprar a Digital! (rs)

Aí eu comprei a digital, também foi por intermédio de um gringo, né? Ele trouxe a câmera pra mim, eu fiquei morta de feliz. Eu não tinha nada definido, só sabia que queria pegar um trabalho mas não queria que a assessoria soubesse, e tava tentando várias coisas ao mesmo tempo pra não ficar sem fazer nada.

Ai acho que com três dias que eu tava com a câmera esse meu professor me ligou da revista... “Talita, tenho um freelancer pra tu fazer”. Aí chamou prá eu cobrir uma pauta sobre o Ministro da Pesca que vinha prá cidade de Beberibe. Ele foi de carro comigo e com a repórter, porque ele também é assessor de Beberibe. Aí dálhe fotografar! Eu nunca fotografei tanto na minha vida! Pense num dedo pesado! (rs) Uma jovem no começo da carreira.

Aí lá eu encontrei o Alex Costa do jornal O Povo. Ele estava fotografando lá, e teve uma hora que estava um por-do-sol, tinham umas faixas de boas vindas para o Ministro e tinha um garoto em cima de um pau bem alto, e estava dando um contra luz legal. Aí na mesma hora nós dois fomos fotografar! Aí pintou o clima prá ele me convidar para o jornal O Povo! (rs)

Aí que foi a sorte! Quer dizer, Deus. Porque eu acredito mais em Deus que na sorte. Porque nessa época tinha aberto uma vaga de fotógrafo estagiário pro O Povo, e como tem pouca mulher nesse meio, o Alcides, o Editor, que gosta de variar, porque tem pautas que a mulher dá mais certo, não é que dê mais certo, é que tem pautas que caem melhor prá mulher, outras que caem melhor pros homens...

Enfim, ele gosta de diversificar e como tinham muito homem lá, aí ele preferia com certeza uma mulher, aí deu certinho! Eu entreguei aquele portfólio mó mentira. (rs) Meu currículo... aí fui mostrar a câmera, aí foi nessa que ele me desiludiu logo, ele disse “não dá certo essa câmera aí”. Por causa da lente, porque pro fotojornalismo o essencial mesmo é uma grande-angular.

É muito importante uma grande-angular, até mais que uma tele. Como diz Robert Capa “você tem que se aproximar”, o bom fotógrafo tem que estar interagindo com o ambiente, não pode ser só com a tele, de longe. As vezes a gente se vicia com a tele, porque é ótimo! Você pega tudo bem em detalhe mas você esquece dessa aproximação. É meio viciante.

CF:
E porque você mudou seu equipamento prá Canon?

TR:
Pra Canon? Foi o mercado mesmo.

Eu cheguei lá e eu queria muito usar as lentes do jornal. As vezes tinha desfile. Aí eu ia com a minha Nikon e minha telezinha toda apertada lá em baixo. Eu queria muito fazer esporte, eu queria muito fazer desfiles e o pessoal lá dá muita oportunidade quando vê que a pessoa tá interessada. Mesmo eu sendo estagiária eles emprestariam as lentes, alguma coisa assim. E com a Nikon só tinha a Lia de Paula, e era meio difícil mesmo esse compartilhamento de baterias, de lentes, era complicado.

Aí eu troquei pra me encaixar mais, todo mundo tinha. As lentes são mais baratas. Mas na verdade foi porque todo mundo tinha mesmo.


E hoje eu vejo que me beneficiou muito, que quando minha lente quebrou, tinha gente pra emprestar, ou quando minha bateria morre, num instante eu acho uma. Quem tem Nikon lá no jornal sofre muito. Apesar de que eu gosto muito da Nikon, das cores, eu achava uma máximo. Mas, tudo tem seu preço, né?

CF:
Fora a Fotografia, quais são suas outras paixões na vida?

TR:
Minhas paixões? Vixe maria!

CF:
Eu sei que você gosta muito de dança.

TR:
Taí! Me lembrou! Eu tinha esquecido, faz muito tempo que eu não Danço.

Foi no projeto Dançar Faz Bem que eu comecei, foi a minha irmã que me levou, que era mais doidinha assim, né? (rs) Ela queria fazer e eu fui com ela, prá eu não passar vergonha sozinha. (rs)

Mas era uma época muito boa do projeto, não sei se agora tá tão bom. Os instrutores eram sérios, eles falavam da dança não só como algo pra você sair a noite pra pegar alguém, mas sim como algo mais lúdico, pra você perder a timidez de interagir com pessoas, a dança tinha uma coisa assim, era ótimo.

CF:
Então você se considera uma pessoa tímida?

TR:
Então, eu acho que eu sou tímida, eu fui uma criança muito tímida. Mas não sei, a gente quando se envolve com as pessoas tem muita troca, e eu já tive amigos muito doidinhos. (rs) Que eu acho que me passaram algumas coisas. As vezes as pessoas mais extravagantes acabam colocando a gente nas sombras, mas as vezes a gente acaba aprendendo com eles.

Na verdade as pessoas acham a gente muito besta quando nos conhecem. Lá no jornal O Povo a galera sempre diz “Talita porque tu era tão besta quando tu chegou aqui em'?(rs) Ai eu, ai meu Deus! (rs)

Mas não, quando a pessoa se sente a vontade com a outra, né? Dá mais uma abertura. Tem coisas que você não tem coragem de falar pra todo mundo, aí vão logo lhe julgar. “Lá vai a doida”! (rs) Mas tem amigos que você pode falar qualquer besteira que vira uma piada, uma brincadeira. Vamos dizer que eu sou tímida assim num primeiro contato.

CF:
Você é tímida ou você é uma pessoa reservada?

TR:
Não sei...

CF:
Por exemplo, no Orkut você não revela muito sobre você...

TR:
É, não gosto não por que é um meio muito perigoso. O Orkut, ele é muito misturado na verdade. Tem gente do bem e tem gente do mal. Tem gente que quer olhar suas coisas só prá lhe diminuir, ou prá saber da sua vida. Sei lá, um assaltante que quer lhe seqüestrar. Por favor não me seqüestrem, porque não tenho dinheiro. (rs)

Mas tem gente que quer se comunicar com você, te conhecer e olhar seu trabalho. Um barato! Mas aí eu acho que o Orkut é muito misturado mesmo. Então eu não gosto de botar muita informação não.

E outra coisa que eu tava pensando um dia desses... Uma coisa que o Orkut tirou das pessoas... Eu adoro o Orkut deixando bem claro. É que as pessoas não... por exemplo eu vou te conhecer aí eu olho logo teu Orkut. Aí eu fico logo cavucanto tua vida, eu já sei logo muita coisa sobre ti. Isso tira muito da surpresa de conhecer a outra pessoa. As vezes é bom pra você conhecer um lado bem engraçado que você levaria muito tempo pra conhecer, outras vezes é meio ruim, porque a pessoa já sabe seu jeito. Tira muito a surpresa. Enfim, é por esse motivo que eu não dou muita brecha assim prá todo mundo, sei lá né? (rs)

Tem gente que faz do Orkut sua vida ou de qualquer outra coisa, de blog, de página da internet.

Eu tenho um blog de fotos. Eu boto as fotos e digo o que é. Poucos são os comentários que eu faço. Eu acho mais importante do blog é pessoa olhar a foto primeiramente. Por isso eu coloco a foto bem grandona. Maior que o comentário, não tem nem título e em baixo, eu digo onde é. Porque as vezes eu vou a uma exposição aí vejo ai eu fico me perguntando um milhão de coisas, o que é isso, onde foi tirado? Eu acho que poucas palavras resolvem o resto é a imaginação às pessoas.

CF:
Você tem algum ídolo, alguma referência no mundo da Fotografia?

TR:
Hum! Eu acho que não tenho não. Tem várias pessoas que eu já estudei e várias pessoas que eu conheço e que gosto. Mas eu não conheço muitos trabalhos de outras pessoas, não vou nem mentir, não sou conhecedora profunda. A gente sabe o Robert Capa, o Cartier Bresson. Sebastião Salgado. Mas tem muita gente que a gente pode procurar e ver.

CF:
Você acha que os fotógrafos de hoje estão melhores que os mais antigos?

TR:
Não, melhor não é bem assim. Eu acho que esse negócio de melhor não existe.

CF:
E o que diferencia?

TR:
O aprendizado que é mais rápido. Com certeza. Eu não teria aprendido tão rápido se não fosse o digital não. Você vê na hora, errei nisso, naquilo e naquilo outro. Aí bota o flash assim aí você vê se o resultado presta ou não presta.

Eu acho que técnica, apesar do photoshop, você tem que ter. Não adianta você fotografar dum jeito e querer mexer depois no photoshop e a bicha ficar com um grãozão, o enquadramento não dá pra ajeitar, a foto é vertical e você querer horizontalizar.

Não sei, você tem que ter a técnica. É inevitável. As vezes dá certo dar um tratamentozinho, uma calibrada. Apesar de estar falando do Photoshop, ele é muito bom se for bem usada, tá entendedo?

CF:
Você trata muito as suas fotos?

TR:
Eu trato. Tipo assim, eu faço uma foto artística, eu posso meter Photoshop adoidado, que ficando bonito ao meu olhar, ao olhar de outros. É impossível você agradar a todos, né?

Mas com relação ao Fotojornalismo, eu acho que ninguém pode mentir, não posso adicionar uma coisa, nem retirar uma coisa, apesar de que eu posso cortar a foto. Mas eu acho que eu não posso é mentir com o Photoshop.

Às vezes eu quero colocar mais cor, porque eu não tenho filtro correto, quero fazer uma correção de cor. Sai uma luz meio amarelada e eu quero corrigir. Branco, eu quero branco, eu não bati o branco na hora. Eu ir lá no Photoshop, colocar aquele o conta-gotas aí fica tudo branco! (rs)

Ou então pode aparecer uma sujeirinha do meu sensor? Eu não vou tirar uma sujeira que saiu na foto!? Claro que eu vou, tá entendendo? (rs)

É basicamente isso, botar um pouquinho mais de cor. Clarear uma fotinha que derrepente eu perdi. Dentro do fotojornalismo eu tô falando, se eu quiser facilitar a leitura, eu acho altamente bem vindo o Photoshop. Até mesmo porque no tempo do filme o pessoal fazia as gambiarras né? (rs) O negócio é que você não precisa mais ter dez milhões de reais prá montar um laboratório na sua casa como antigamente.


Kite Surf na Taíba - Foto: Talita Rocha


CF:
Na época do vestibular, o Jornalismo foi sua primeira opção?

TR:
Foi. Na época do vestibular eu queria ser jornalista.

Aí todo mundo disse que não ia dar certo, que eu era muito tímida e jornalista tem que ser desbocado. Tem que ser apresentado! (rs) Mas não, deu super certo. Porque realmente, eu pensando assim, olhando pra trás, o que eu pensei prá mim tá tudo dando certo.

Eu queria muito uma carreira assim que eu não ficasse num escritório, alguma coisa mais emocionante. Esse nome "Trabalhar" já não é muito bonito, né? (rs) Que seja trabalhar numa coisa que você se sinta bem, e Jornalismo é legal porque é todo dia uma coisa diferente.

É cansativo essa coisa do jornal como eu tava te falando, é. Mas é legal, eu vou pro jornal e nunca sei o que eu vou fazer. Vou pra lá fico sentada esperando a hora. Pode ser uma coisa mirabolante, pode ser uma coisa que eu nunca vi. Pode ser um retrato, pode ser uma foto de uma fachada, pode ser uma coisa que você precise interagir com a pessoa. Você fica na espectativa do que você vai fazer hoje.

Ou você vai no carro pensando “essa pauta vai ser uma droga”, mas chegando lá é uma coisa maravilhosa. Tem muito disso, é muito legal mesmo.

CF:
A Fotografia foi a sua primeira opção durante a faculdade ou você experimentou outras coisas?

TR:
Não, foi não. Eu experimentei várias coisas. Eu entrei na faculdade no seguinte sentido... Eu era muito nerd. Eu entrei na faculdade e disse “eu vou provar de tudo, pra eu saber fazer tudo, pra não me faltar emprego”. (rs)

Ai meu planejamento pros quatro anos de faculdade era fazer rádio, tv e impresso. Ainda tem assessoria que ninguém sabe que existe, mas quando entra, a pessoa descobre que existe esse emprego. Porque metade do pessoal acha que quando entrar no jornalismo e vai virar Fátima Bernardes, Willian Bonner e aparecer na tv.

Eu não lembro quem me disse, mas me disseram que se um dia dissessem que iam tirar a tv do jornalismo, cairia pela metade a concorrência e ninguém iria mais fazer.

Mas eu entrei pensando em fazer impresso, porque eu gosto muito de ler e de escrever. “Vou entrar, vou ler, vou escrever, farei impresso, aí foi com esse pensamento, mas meu primeiro estágio foi em rádio. Naqueles meus planos de provar de tudo. (rs) Rádio, aí depois fui pra assessoria, aí recentemente quando foi meu estágio supervisionado eu fiz impresso. Não cheguei a ir pra tv porque eu não simpatizei. Talvez se eu tivesse trabalhado eu tivesse mudado, não sei né?

Mas aí a Fotografia veio assim, depois que eu fui pegando os livros que foi surgindo mesmo. Meu pai dizia assim... “Talita”! (rs)

CF:
Seu pai não gostou da idéia?

TR:
Não, ele não botou “areia” não. Meu pai ele não é muito falador. Mas eu vejo nas atitudes uma grande pessoa assim pra me incentivar. Eu sinto que ele se orgulha. Eu acho que ele nem imaginava que isso aí acontecer, que eu ia trabalhar com Fotografia.

Ninguém quer ser fotógrafo quando é pequeno. Querem ser veterinários, professores, médicos... Porque ser fotógrafo nem profissão é, né não?(rs) A primeira coisa que você tem que ver é se realmente tem mercado. Ele dizia “o que tu quer com esse negócio de fotografia”?

Sendo que ele tava investindo assim, no aperto, investindo em uma coisa que talvez não tivesse aquele retorno profissional e financeiro. Aí eu ficava naquele se rolar, rolou. Se virar uma hobby, que que eu posso fazer? Se tiver emprego, vira emprego, melhor ainda! (rs)

Mas pensando bem, tem muito emprego prá fotógrafo. Ainda mais agora estão surgindo mais fotógrafos. Um fotógrafo que se dedica mesmo, aparece, se eu for querer ser fotógrafo de moda? Porque as vezes abre uma vaga la no jornal, tem muita gente querendo entrar, mas as vezes falta aquela pessoa que queira mesmo, que tenho o perfil e que se dedique mesmo, as vezes falta.

Então, tem espaço pra todo mundo no mercado, não seremos concorrentes.

Essa semana eu fiquei abismada com um negócio. Eu queria desabafar... (rs)


CF:
Isso é um off?

TR:
É não, não é off, pode colocar. (rs)

Eu fui fazer uma pauta no colégio Sete de Setembro, que era sobre o voto facultativo, os adolescentes que tem 16 anos, que podem votar, que querem ou não votar, coisas assim e tal.

Aí surgiu uma doidinha lá que disse que adorava fotografia. E a primeira coisa que ela disse quando me viu com a câmera foi “essa lente é uma macro”? (rs) O povo já acha que a gente sai fazendo fotojornalismo com uma lente macro, né? (rs)

Eu respondi “não né não”! (rs) Mas eu fui super simpática com a menina, porque quando eu não sabia nada eu também ficava perturbando o povo. (rs) E o conhecimento é muito pouco mesmo. A pessoa achar que isso é uma lente macro! Nunca teve no colégio, na faculdade uma coisa que... Ou seja, Fotografia é um coisa que você precisa ir atrás mesmo. Porque de bandeja pra você não tem nenhum estudo não.

Enfim, ela perguntou logo se era uma macro, que era o que o povo conhece. Aí eu disse que não que a lente não era macro não. Mas também nem disse que era uma grande-angular que ela também não ia saber o que era.

Aí ela puxou conversa comigo, e disse que adorava fotografia, e que tinha uma máquina de filme e que ela tinha batido altas fotos iradas. Aí eu acreditei, né? Porque realmente a nova geração está se garantindo mesmo. (rs)

Aí ele disse “olha eu quero fazer jornalismo também, e eu quero fazer fotografia, daqui pra lá nós poderemos ser concorrentes”! (rs)

O povo não acha que no mercado as pessoas são amigas, são colegas. A gente com o pessoal do Diário, com o pessoal que faz moda, com os fotógrafos de assessoria... Todo pessoal na verdade é colega. Olha só o que o terceiro ano coloca na cabeça desses meninos! Bota na cabeça do povo que todo mundo é concorrente! (rs) Mas nem é isso, tem espaço no mercado pra todo mundo. E o povo supostamente, salva alguma exceções, o povo é amigo, se falam e tal.

CF:
Então a sua relação com seus colegas de profissão é boa?

TR:
É boa. Têm umas confusõezinhas, mas...(rs) Mas com os colegas é boa. Eu falo com todo mundo. Aquela coisa de acharem que eu sou besta. (rs) Mas eu faço um esforço. (rs) Já não é de mim, chegar dando tchauzinho. (rs)

Por exemplo, uma coisa que aconteceu quando eu entrei, quando vai pra pauta, você fica logo acanhado quando tem outro fotógrafo de outro meio que já está há muito mais tempo que você. Aí ela vai e puxa conversa com você e você sente bem, né? Oi, tudo bem, tá trabalhando com o O Povo agora? Aí puxa uma conversinha, aí você fica logo “amigo de pauta”.

É uma coisa que eu procuro fazer com as pessoas, por exemplo, uma vez que eu encontrei uma estagiária do diário... Quando você nunca viu, é porque é alguma coisa, estagiário ou é freelancer. Você chega junto, pergunta e tal. A pessoa fica super feliz, eu ficava morta de feliz. Tipo assim “eu ganhei um novo amigo”.

É, a relação é muito boa mesmo.



Talita Rocha com alguns de seus colegas de redação.


CF:
O que você acredita que é importante para a formação de um bom Fotógrafo?

TR:
Como eu tava te dizendo, estudar Fotografia é meio difícil, você precisa correr atrás. Mas eu acho que você ver imagens alimenta muito suas idéias, treina seu olhar. Não existe nada que nunca tenha sido feito. Eu vou fazer uma imagem e o Bresson já havia feito isso há muito tempo.

Mas eu posso fazer diferente, posso ter outra idéia em cima disso. Cada um tem um olhar. Mas é importante você ver fotos de outros fotógrafos. Eu considero que primeiro caí no mercado, primeiro saí fotografando prá depois ter o conhecimento da história. Foi recente, realmente naquela ância de sair batendo foto você nem lembra de estudar.

Mas pra formação do fotógrafo é importante você ver imagens, ler livros.

No fotojornalismo gosto muito de ver as fotos da France Presse, da Reuters. Só que lá no google você procura as últimas 80 fotos que foram feitas por fotógrafos. A National Geographics. Então você vai se alimentando com essas fotos, vai fazendo vai vendo o que o mercado procura, ou se você gosta de trabalho autorial, conceitual você numa exposição. É sempre bom.

CF:
Você já participou de alguma exposição fotográfica?

TR:
Rapaz, participei lá na faculdade, e uma de um concurso e 2 no IFoto, foi legal que só! Muito bom.

CF:
Você acredita que é importante uma graduação para formar um Fotógrafo?

TR:
Eu acho que facilita. Se eu tivesse cursado Fotografia... É muito bom você ter iniciativa, mas é muito bom quando tem um sistema que vai lhe proporcionar o acesso a informação. Tomara que não seja enganação. Que vai lhe proporcionar um conhecimento a cerca da Fotografia, que eu não tenha que sair procurando por conta própria, é ótimo.

Agora eu acho que a prática também é muito bom. Não adianta esse negócio de ficar na mesa da faculdade ouvindo, ouvindo e ouvindo. E não praticar.

Eu teria vontade de fazer uma faculdade dessas. Não agora que eu já sou graduada em Jornalismo. Mas é bom que facilita. Eu suponho que nessa do SENAC tenha várias cadeiras de fotojornalismo, de estúdio, de laboratório.

Então, eu tendo todas essas opções dentro de um canto só. É ótimo, eu não precisaria bater lá na porta da Delfina pedindo pra ter uma experiência no estúdio.

Agora as pessoas que são graduadas, comparar com uma pessoa que tá há anos no mercado, eu não vou dizer que é a mesma coisa. Não dá pra comparar, é muito relativo esse negócio.

CF:
Como você avalia a Fotografia aqui no Ceará?

TR:
Em termos de estudo está muito fraco. Não tem nenhum curso que deixe o pessoal de boca aberta. Vê-se nas revistas cursos de num sei o que em São Paulo. Em outros países.

Eu acho que em termos de proporcionar esse conhecimento pras pessoas, ta muito fraco.

Agora falando de produção, você muitas pessoas se destacando no fotojornalismo. Coisa que é feita pela Folha de São Paulo é feito aqui também. Coisas de moda que a Delfina faz, eu não tenho conhecimento suficiente para avaliar o nível dela, mas eu acredito que seja tão boa quanto a produção de São Paulo.

Mas o pessoal daqui é raçudo, né? Tem que lutar pra ir atrás das coisas. Nesse sentindo aí de você procurar, de você lutar mesmo.

É até melhor você dá mais valor as coisas.

CF:
Já ocorreu alguma vez da sua foto favorita não ter sido bem aceita pelo editor? Como você se sentiu, qual foi a sua reação?

TR:
Sempre! Ora isso é a coisa mais fácil de acontecer no jornal! Você passa o dia olhando pra foto, aí pega e sai outra! (rs)

Porque você tem uma idéia... Quer dizer, pra você trabalhar num jornal, não basta saber fotografar, tem tanta coisa que as vezes não tem nada a ver com Fotografia. Você tem que entender o ritmo do jornal, além de saber fotografar e também tem que ser uma pessoa calma, tranqüila, que não vá morrer do coração. (rs)

CF:
Os outros fotógrafos dão muitas sugestões à você?

TR:
Dão muitas sugestões. Principalmente no começo.

E tem que tomar cuidado pra você não achar que é o bichão, agora ninguém pode me dar conselho! Não, toda vez que lhe dão conselhos, as vezes você acha que o conselho é mó paia, não vai dar certo. Não, eu fico na minha. Afinal a pessoa tá achando que é pro meu bem.

A última vez que me deram um conselho , uma crítica mesmo “Talita, tu tá usando muito essa lente 10-22”. Ela super-estica as coisas. Mas as vezes eu quero relacionar dois elementos, por exemplo essa xícara aqui e você. Eu quero esticar bem grande pra caber os dois, aí a lente me salva totalmente.

Aí me disseram “Talita tome cuidado pra você não se tornar uma fotógrafa de lente, tome cuidado com seu olhar”! Eu entendi assim que você vê aquela foto e você só vê a lente que você vai usar, sei lá. Mas eu entendi a crítica. Por exemplo, com a tele, se você só usa ela, você não chega perto, aí tem que maneirar mais.

No jornal você não faz só o que você quer, não sai a foto que você quer. É a foto que eles querem, é a foto que dá certo pra matéria. Não é o editor, é o que a situação quer. A culpa é do sistema, né? (rs)

Eu faço uma foto ótima, ela é belíssima! Ela tem que sair amanhã e eu tenho certeza que a foto da pra capa, é a foto do mês! Só que aí, por exemplo, morre o dono do jornal, da onde que a minha foto vai ser a capa? Não vai. Ela vai lá pra dentro e se tiver um anuncio ela vai sair ainda menor.

Na verdade as fotos da capa é o editor que escolhe, e as fotos de dentro, são os editores das editorias. Por exemplo, eu faço uma foto de política, quem vai escolher a foto é o editor de política, que não tem nenhuma formação de Fotografia, ele pode escolher uma foto horrível e você fica indignado.

Tem tudo isso que leva a sua foto maravilhosa a não sair.

Às vezes você pode chegar no repórter e passar os queixos, tipo... “Olha ai como essa foto tá massa, dá uma forcinha aí pra essa foto sair”? (rs)

Hoje mesmo eu fiz uma foto que saiu o corte, o corte também, tem o negócio do corte. Eu fiz uma foto daquela mesma matéria do voto, né? Que era a mesa das crianças. Na sala das crianças tinha um cartaz escrito “liderança”, que era pro líder de sala, tinha tudo a ver com o voto porque eles mesmos faziam a votação entre eles e isso refletiria na consciência que eles teriam política quando eles fossem grandes, né?

Aí eu botei os meninos todos sentados nas carteiras, né? Os meninos o cão! (rs) Olhando pra mim e com o cartaz “liderança” atrás. A foto saiu hoje, os meninos e cortaram o nome liderança. É uma coisa que faz o esforço de associar o nome liderança ao assunto da matéria e as crianças, aquela letra no cartaz de criança e tal, e o povo em vez de cortar em baixo, cortou em cima o nome liderança.

Ou seja, tem muita coisa entre o céu e a terra... (rs) Que a sua mera cabeção não possa entender. (rs)

Porque tudo foge do seu controle, não sou eu que escolho. E eles lá, se o espaço for quadrado, eles vão ter que cortar a minha foto quadrada, se for redonda, eles vão ter que recortar redonda. Porque é o layout do jornal e não tem como lutar contra isso.

Mas se você faz uma foto boa, o jornal valoriza. Você já viu uma foto na capa que vai dos pés até a cabeça. Eles valorizam você, valorizam o trabalho. Se a foto for boa eles valorizam, o jornal O Povo principalmente, você pode ver que não é igual o The Times que só tem letras, o jornal tem muitas fotos.

Eles valorizam mesmo, e isso é um incentivo prá gente. Mas nem tudo a gente pode controlar, né?

CF:
E você acha que isso te prejudica? Uma pessoa de fora que vê um trabalho ruim com seu crédito?

TR:
A pessoa diz “e que fotógrafo paia”! É claro, né? Mas é o preço que se paga. O que a gente pode fazer é dizer na reunião “meu filho, preste atenção”! (rs)

CF:
Recentemente o Ceará teve a grande perda do Senhor Demócrito Dummar, o dono do jornal O Povo. Como você recebeu esta notícia e como os profissionais do jornal estão se sentindo com o boato de que o jornal poderá ser fechado?

TR:
Rapaz desde que eu entrei o jornal O Povo vai ser leiloado! (rs) Até hoje não foi, tem mais de dois anos.

O discurso da família é um negócio assim “eu vou ressurgir das cinzas”. (rs) Rapaz, o povo não quer largar, porque o grupo Demócrito Rocha não é igual ao grupo Edson Queiroz, que temo Diário do Nordeste. Eu acho que é o que menos dá lucro, porque eles tem a água, tem o Night Power, tem o Indaiá, tem a faculdade, eu acho que dá é prejuízo o jornal prá eles.

Já o grupo Demócrito Rocha é mais o jornal mesmo. Eles tem o contato deles ali, né? Se o jornal O Povo morrer eu acho que a família vai a falência. Ele gostava do jornal. Quer dizer, eu não tinha contato com ele, mas era essa a imagem que ele passava pras pessoas. Ele se importava com o jornal. Não era só aquele negócio de tirar lucro. Realmente o jornalismo estava nos sonhos dele, no sangue dele talvez, né?

E rapaz, é como você disse, é uma família. Sei lá, se vier a falir o jornal algum dia porque tem dívidas no INSS, ou no diabaquatro aí! (rs) Pode até vir, mas é com muito contra gosto mesmo. Eu acho que o pessoal vai lutar até o fim.

CF:
E aí, ta gostoso o café? Ta quente?

TR:
Ta frio, quente não tá não, né?(rs)

CF:
Você gosta de café?

TR:
Gosto mais de cappuccino, porque lá em casa não tem a tradição de tomar café. Meu pai que é o resistente da casa, aí ele toma café só nos fins de semana. Minha irmãs não tomam, minha mãe não toma, eu tomo só de vez em quando. Mas não tendo café eu tomo cappuccino com certeza.


CF:
As mulheres, como em todas as áreas, tem invadido o mercado dos Repórteres Fotográficos, temos bons exemplos como as fotógrafas Patrícia Araújo do jornal Diário do Nordeste e a Geórgia Santiago no jornal Estado.

Como você avalia essa forte inserção das mulheres nesse mercado? E o que você diria para os fotógrafos que ainda afirmam que essa é uma carreira masculina?

TR:
Fotografia? Uma profissão masculina? Eu nem acho.

Os primeiros de tudo sempre foram os homens na verdade. Isso é uma cultura antiga de que o homem tinha que trabalhar e a mulher tinha que ficam em casa.

Mas eu acho que isso não é uma coisa do digital não, tem muitas mulheres que já se atreveram a fotografar na época do filme mesmo.

Eu acho que a Fotografia não é uma coisa de gênero não. Basta você gostar, ter o olhar. Tá aí um recado para os machistas. (rs)

É a mesma coisa de dizer que homem não fotografa moda. Nada a ver, homem ou mulher, todos tem a sensibilidade. Sensibilidade também não é uma coisa só de mulher. Todos tem o seu espaço na fotografia, variadas idades e variados gêneros.

Eu disse desde o começo que tem pauta que a pessoa pensa mais pra mulher, tem pauta que pensam mais prá homem.

Pauta com criança, geralmente colocam mulher na verdade. Acho que assusta menos. (rs)

Ou pautas mais perigosa, tipo uma favela, não vão mandar uma mulher. Até porque uma mulher chama mais atenção e com um monte de equipamento pendurado, só falta uma placa me assalte, né? (rs)

Mas eu acho que uma pauta com criança poderia ser feita por um homem também, é uma preferência boba mesmo, né? O Alex Costa por exemplo, ele é super sensível com essas coisas com criança. O negócio é partir da pessoa mesmo. Tem gente que não dá pra certos tipos de coisas.

Ou talvez seja porque dizem que o homem tem mais cabeça pra trabalhar com técnica, com essa coisa de mecânica, com equipamentos em geral, talvez seja isso, né?

CF:
Qual o grau de importância que a qualidade do equipamento tem para o seu trabalho?

TR:
A importância do meu equipamento não é 100% com certeza. Eu não trabalho com meu equipamento, eu trabalho com o do jornal, é uma 20D. As vezes saem fotos maravilhosas, depende do olhar. As vezes não sai tão legal porque o disparador é só 2 por segundo, não é 6 por segundo.

Eu acho que pessoa tem que aliar os dois. E as vezes a máquina tem certos tipo de comandos que a gente as vezes nem imagina. E se a gente lesse os manuais que era a coisa certa a se fazer, a gente talvez soubesse mexer mais.

Mais você tem que explorar as possibilidades que a máquina lhe dá, mas não pode perder o olhar por causa disso. Uma coisa que o Fontenelle sempre me diz. Eu tô citando várias pessoas porque lá nós trocamos muitos conhecimentos. Não tem uma pessoa que eu acho que não tenha me dado uma dica.

Ai ele sempre diz ele gosta que meu olhar está bom, mas as vezes ele me diz que tenho que investir mais na técnica. Porque ele gosta muito da técnica. Ele tá por dentro de tudo, ele sabe de tudo do manual. Pronto, bater o branco, tem gente que até hoje não sabe bater o branco. Eu posso bater o branco manualmente, não precisa daquela coisa de luz de tungstênio, luz fluorecente. Eu posso pegar uma folha branca aqui com essa luz e bater o branco, as cores vão sair perfeitas, o branco vai sair branco, o rosa vai sair rosa.

Enfim, a técnica é importante prá você não ter que mexer no Photoshop. Pra eu poder controlar um contra-luz. Ter o rosto duma pessoa nítido. Não sei, é muito importante mesmo. Mas eu acho que você com uma câmera simples, você faz um estrago viu!? (rs) Dizem que o Bresson fotografou a vida dele todinha com uma 50mm. E ele é conhecidíssimo hoje. Então pronto, eu não preciso de uma olho de peixe, de uma 600mm.

As vezes é o olhar, a sensibilidade, a atitude. A atitude também conta muito. Você chegar lá, as vezes você pensa numa foto mas não tem a atitude de chegar lá. De entrar dentro d'água, de se deitar no chão, de falar com uma pessoa, tá entendendo? As vezes você quer fotografar uma pessoa, você não vai chegar lá na pessoa e trururur! (rs) Na pessoa, tem que ir ganhando confiança, ai conversa e dá um click. (rs) Enfim...

Voltando pra essa coisa da câmera, eu acho que é importante ter a qualidade, porque tá avançando cada vez mais. Mas eu acho que você pode fazer boas fotos sem ter um super equipamento.

CF:
Vale tudo por uma boa foto?

TR:
Não, vale não. Tem horas que você tem que abaixar a câmera. Você precisa aprender a respeitar a dor das pessoas. Eu fico muito temerosa. É uma das coisas que mais preocupa no começo da carreira. Tem uma pessoa chorando, eu vou chegar lá e disparar na cara da pessoa? Isso é um desrespeito, fotografar uma pessoa que não quer ser fotografada só porque a foto vai sair boa.

Tipo assim, eu acho que pessoas que fazem uma safadeza e são de poder público, um político quer errou e tal, que não quer ser fotografado, uma pessoa púbica. Ah meu filho! Dá licença! É uma pessoa pública! Seu nome ta na boca do povo e não quer ser fotografada? Você tá no meio da rua também, não tá na sua casa, não invadi, não pulei!

Mas, não vale não óh. Tipo assim, uma pessoa doente no IJF... A pessoa “ai, ai”. A pior foto de fazer é no hospital, que a pessoa tá pra morrer de dor, se contorcendo de dor, ela não tem nem a atitude de mandar você baixar a câmera.

Não, não vale não. Melhor perder a foto mesmo viu? (rs)

CF:
Talita Rocha, o que você carrega no seu NowBomb?

TR:
Ixi! Protetor solar! (rs) Você não esperava pelo protetor solar? (rs) Todo dia eu levo uma 50mm, uma 10-22, uma 17-85, pilha, bateria, cartão, 2 flashs. Aquele fio do flash, a molinha, que bota o flash pro outro lado. Uma plaquinha branca pra rebater, porque meu flash não tem aquele rebatedor. O outro tem, são 2, um do jornal e o outro meu. O do jornal tem. Uma caneta pra anotar os nomes das pessoas, porque sem uma caneta o pobre do fotojornalista não é nada, infelizmente.

Teve uma época que eu andava com uma lupa, pra fazer macro! (rs) Não ando mais porque não dava um resultado tão bom. (rs)

Mas tem uma coisa que falta nesse nowbomb, é uma coisa pra botar água, pode escrever aí que é pra falar pro fabricante! (rs)

CF:
Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou durante o seu trabalho?

TR:
Que eu me lembre não. Já bateram no nosso colega. Acho que você sendo mulher eles não fazem nada, vão deixando...

Assim, sempre que você entra em área de risco você tem que ficar atento. “Ai vão levar minhas coisas, vão levar, vão levar”!

Mas as vezes o povo até respeita a imprensa né? Até porque as vezes você vai lá por um interesse deles.

Mas assim um medo bem grande que eu tenha passado. Acho que não...

Tem as dificuldades que são até engraçadas, que depois a gente ri. (rs) Por exemplo você ficar pendurada nos cantos, aí não saber mais como descer. Você achar que vai cair dum canto. Você estar no meio da rua e vem um ônibus, e você achar que ele vai lhe levar com tudo, você sentindo o ventinho dele passando. Você ter que entrar dentro d'água com tênis e molhar a calça todinha. Essas são as dificuldades que valem a pena.

A maior dificuldade que eu enfrento é diária, sabe? É de você não subestimar a pauta. Você sair na pauta pensando “não vai render, não vai render”. Tem que superar esse negócio. É uma dificuldade. Se eu vou fazer um retrato, o que eu vou fazer nesse retrato? Eu não quero fazer um 3X4. Então você ir pensando e tal, e não vai dar certo. E no final das contas acaba dando certo.

Outra dificuldade é se aproximar das pessoas, as vezes é muito mais cômodo você fazer uma foto de longe, mas é muito mais interessante você se aproximar. Essa uma das grandes dificuldades pra mim que sou meio travada, sabe.

CF:
Você já esteve frente a frente com nomes de importância internacional como por exemplo o técnico de futebol Wanderley Luxemburgo e a filha de Che Guevara, Aleida Guevara. O que essas oportunidades significam para você e para sua carreira?

TR:
A pessoa que diz logo “vai pro meu portfólio”. (rs) Não mas a importância, eu não digo só as celebridades, mas uma pessoa da favela. Eu conheço uma realidade que eu não era tão próxima.

Eu conheço o Luxemburgo de perto eu tenho minhas conclusões a respeito dele tá entendendo? Chego numa favela e conheço uma pessoa e isso vai acrescentando conhecimento em você. Eu fui prum show duma banda que eu pensei que eu ia morgar, ai eu “valha que banda massa”! Banda dos tempos do ronca, aí eu “ai meu Deus eu vou ter que fazer esse show”! Aí a banda agitou legal!

Conhecimento, né, que você adquire? Conhecer as pessoas, tirar suas próprias conclusões. As vezes é uma pessoa que você não tem conhecimento. As vezes você vai entrevistar um músico que o ritmo não é o que você gostava, mas você começa a conhecer, “vala que homem simpático, a banda dele é até boa”! (rs)

CF:
A pergunta clássica: Fotografia é Arte?

TR:


É Arte. Eu acho. Eu digo que Arte porque você coloca muito de você na sua fotografia. É muito seu lado pessoal, seu olhar. Você mostra seu mundo pra outra pessoa.

Se eu vou fotografar a chuva na cidade, se no meu olhar a chuva traz coisas boas, eu vou mostrar essas coisas boas, tá entendendo?

CF:
Nesse sentido dá pra agregar Arte a fotografia jornalística.

TR:
Dá. Eu acho que não existe isso de você fotografar sem estar botando seu subjetivo no negócio. É a mesma coisa de você estar escrevendo um texto. Eu vou omitir isso, mas eu quero falar é disso.

Eu enquadrei aqui, eu enquadrei o que eu queria. É dentro de uma situação que eu não concordo, mas eu enquadrei o que eu queria. É meio loucura, mas é alguma coisa assim.

CF:
Você está feliz com a sua carreira?

TR:
Tô. Eu já te disse que nem tudo são flores, mas as compensações são melhores que as adversidades.

Eu acho que é muito bom quando você pensa alguma coisa pra se e aconteceu.

Eu queria na época da faculdade trabalhar com alguma coisa legal, dinâmica, que você se surpreendesse todo dia e queria ser fotógrafa, nunca imaginei que isso poderia acontecer. Não sabia nem que fotógrafo ganhasse dinheiro pra viver, pra comer.

Sei lá aconteceu, deu certo e eu to feliz. É uma área muito boa. Não que eu não queira explorar, mas a área do meu coração é o fotojornalismo.

CF:
Pra terminar...

TR:
Haha! Saideira! Acabou o café, né? Aí acaba a conversa. (risos)

CF:
Que recado você pode deixar para os jovens e leitores do Café com Fotos, que jovens como você ainda pensam em se aventurar na carreira de fotojornalista?

TR:
Que estude bem muito, que veja muita imagem. Que não ache que é só praticar, você também tem que ler.

Que não fique muito afoito com esse negócio de câmera, “tenho que trocar”, não sei o que!

Vá com calma, porque não é fácil. É um negócio caro, Fotografia é uma profissão cara, é um hobby caro. Calma que tudo dá certo. Sempre cabe mais um no mercado.

Eu acho que se for por vocação realmente você vai se achar, você vai gostar mesmo. E que aceitem críticas. Deixa as pessoas não gostarem das suas fotos, porque é uma coisa muito pessoal.

Ouçam as críticas porque as pessoas sempre tem algo pra lhe acrescentar, até nas críticas. Eu ouvi muitas críticas, “a faz isso, a faz aquilo”. Como eu te disse algumas eu achei que não eram tão importante, outras, muitas na verdade eu absorvi. E todo conhecimento faz parte daquilo que você é.

Não se deslumbrar com esse negócio que eu sou um artista, que eu sou não sei o que. Tanto o jornalismo como tv, é muito ego. Deixa essa coisa de lado, vá fazendo seu trabalho. Você vai aprendendo aos poucos, ninguém nasce sabendo.

É isso, estudar. Estudar também o equipamento que você tá na mão. As vezes você tem um equipamento e quer logo trocar e você nem sabe tudo aquilo que ele pode fazer. Então é basicamente devorar imagens. No começo você fica batendo fotos com os olhos em todo o canto, experimentar, que hoje o digital está aí pra você experimentar, se deu certo deu, se não deu bate outra.

Café com Fotos:

Valeu Talita Rocha, muito obrigado.

Talita Rocha:
Valeu! Pronto, foi um prazer Jota. (rs)



Outras referências:

  1. Blog da Fotógrafa http://talitarocha.blogspot.com/
  2. Jornal O Povo http://www.opovo.com.br/
  3. Blog dos Fotógrafos Cearenses http://rapaduranews.blogspot.com/

Notas:

  1. Essa entrevista foi publicada de forma simplificada, usando todos os termos da conversa coloquial que tivemos. Para lembrar que essa entrevista não foi editada no tocante aos regionalismos, uso a sigla SIC, que faz parte da linguagem jornalística para representar a não alteração da maneira de falar do entrevistado. Mais informações ver SIC Wikipédia.
  2. Salvo as duas primeiras fotos e a última, que são de minha autoria, todas as outras fotografias publicadas neste post são de autoria da Fotógrafa Talita Rocha e de seus colegas de trabalho.


Muito obrigado caros leitos e amigos. E boas fotos para nós.
J-Chaves


quarta-feira, 30 de abril de 2008

Um mundo invisível


Uma vez eu conheci um garotinho que adorava ir às bancas de jornal após seu horário de aula. Ele ia sempre a fim de dar uma espiadinha nas novidades do dia, não nos jornais obviamente, mas nas revistas em quadrinhos, álbuns de figurinhas e revistas de ciências e curiosidades. Um certo dia ele comprou um livrinho sobre anfíbios ilustrado com fotos e ficou maravilhado com todas as cores e espécies de sapinhos e rãs que ele não conhecia, estava descobrindo um mundo novo. Seus olhos jamais haviam conhecido algo igual, sapinhos pretos com listras amarelas, sapinhos totalmente vermelhos e rãs que eram tão, ou mais coloridas que araras. A partir deste momento, ele passou a ter mais curiosidade sobre ciências e fotografias de animais. Em uma outra ocasião, lá estava eu na banca de jornais, quando o certo garotinho entrou a procura de mais livrinhos do gênero. Desta vez ele pegou um livrinho ilustrado com fotos de insetos voadores. Achei interessante, pois ele parecia estar "viajando" nas fotos das abelhas, principalmente aquelas que dava para ver os "pelinhos" das suas patinhas. Ele acariciava a superfície impressa do livrinho como se não acreditasse no que estava vendo, como se fosse real, e talvez naquele novo mundo que sua mente descobrira, estivesse mesmo tocando.

Aquele garotinho frequentador de bancas de jornais, cresceu, se tornou adolescente, e uma vez durante uma conversa ele me indagou "como será que aquelas fotos dos pelinhos das patinhas das abelhas são feitas"? Na época eu não tive como responder essa questão. Ficava me perguntando, e mesmo a curiosidade falando mais alto, eu não conseguia descobrir a resposta para tal questão.


E finalmente só por volta dos seus 18 anos ele encontrou a resposta, era algo chamado "Macro" e tinha alguma coisa relacionada com Fotografia, porém, ele ainda não sabia exatamente o que era. Dentre outras coisas, a sua constante pesquisa por fotos de natureza o fez se interessar por Fotografia e portanto, essa atividade tornou-se parte do seu cotidiano, algo que ele fazia por prazer. Procurou estudar o assunto e conhecer outras pessoas que também tivessem este interesse e logo, aprendeu o que era a macro fotografia e como praticá-la. Porém, algo ainda atrapalhava, a falta da objetiva correta para conseguir fotografar os pelos das perninhas das abelhas. Um dia porém, um colega do curso de fotografia o qual frequentava indicou a objetiva correta e salvando sua graninha ele conseguiu adiquirir a tal lente e realizou o seu sonho de fotografar os pelinhos das patinhas das abelhas, a partir daí abriram-se as portas de um mundo novo, de novas formas, cores e detalhes, um mundo vasto para ele investigar e se integrar.

Fotografia Macro, definitivamente sempre foi a minha maior paixão. Possivelmente aquele garotinho era alguém dentro de mim. Não lembro bem, talvez sim, talvez não. Precisaria voltar no tempo e penetrar naquele mundo, seja ele real ou não, para refletir onde está aquele garotinho, se eu o observava ou se eram apenas meus olhos. Uma certeza é que hoje quando me perguntam o que faço no meu tempo livre a resposta com certeza não é "vou a praia" o que seria mais natural, já que sou habitante de uma cidade costeira, Fortaleza no Ceará. A minha resposta é que prefiro ir a uma floresta, nos cantos escuros da casa e/ou no jardim da casa de meu pai procurar insetos pra fotografar.

Desde sempre tenho verdadeira paixão por este mundo que poucos conhecem, mas que possam vor a ter a oportunidade ao ver minhas fotos, pois o que me da mais prazer é ver a reação das pessoas e quando olham aquelas imagens e me dizem "ei cara, porque tu não vende tuas fotos pra National Geographic?". Bom, talvez algum dia eu tente dispor algumas delas, ou não. Na verdade, aproveito o meu tempo livre para praticar fotografia macro até porque é algo muito específico e nunca me foi solicitado que faça algo do tipo.

E afinal, o que vem a ser essa "Macrofotografia" J-Chaves?


Ok fotos tipo "Close-up", ou seja, fotos de detalhes no limite máximo do campo focal da lente. Normalmente são fotos de objetos e animais, é mais conhecida desta forma, porém, pode ser de um detalhe, ou de qualquer coisa que você desejar, podendo ser conseguida tanto com uma câmera compacta quanto com uma SLR, trocando em miúdos, tanto com câmeras amadoras quanto com profissionais.

Não tenho a pretenção de dar um curso sobre Fotos Macro aqui, pois seria muito pouco didático, o texto ficaria longo e sacal, mas se alguém quiser podemos marcar para fazer fotos deste tipo, me coloco a vossa disposição caros amigos, até porque é algo que faço com muito prazer, e fotografar com colegas é sempre mais produtivo e engrandecedor.

Outros aspectos pontuais importantes de saber sobre o assunto, é que essas fotos podem ser conseguidas no que poderíamos chamar de tamanho normal e/ou super ampliado, depende do equipamento e da técnica que você usar. Existem lentes especializadas e técnicas como a inversão de lentes que seria uma maneira mais artesanal de conseguir tais imagens. Elas podem ser alcançadas também com lentes do tipo fole ou até com as chamadas lentes close-ups. Algo que eu não sabia antes. Isso mostra que não é necessário um investimento muito alto para conseguir imagens bacanas. Os meus investimentos têm apenas um motivo, eu sempre busco uma qualidade máxima do meu trabalho e por isso esse investimento é necessário.

De qualquer maneira, o principal conselho que eu dou para se conseguir uma boa foto macro, é que se use com inteligência o Flash. "O Flaaash? Detesto o Flash J-Chaves!"
Pois é, mas neste caso, ele se torna indispensável, pois a iluminação de pontos tão pequenos é muito difícil.

No mais, para aqueles que tem o mesmo sonho que eu, que adorariam entrar de cabeça nesse mundo novo, eu desejo muito boa sorte e estarei esperando a visita de vocês. Já fiz meu quartinho alí no condomínio Pirulito Amarelo das formigas vermelhas, e elas são ótimas anfitriãs. Uma coisa eu garanto, num churrasco oferecido por formigas, comida é o que não faltará!

Mais uma vez eu agradeço aos leitores e amigos que dão seu tempo a leitura dos meus devaneios.
Logo abaixo algumas outras fotos macros feitas por mim .

J-Chaves.